Vivemos como pêndulos suspensos por fios de seda. Dependemos de mãos desconhecidas. Somos delicado cristal, perigosamente estilhaçáveis. Insistimos no colo que nos aqueça no inverno.
Vivemos no limiar da morte, à espera da Fortuna que, muitas vezes escondida numa esquina sombria, foge de nós. Padecemos do mal da solidão. Sofremos de febre existencial; febre que mata sem calor.
Vivemos rodeados por armadilhas. No caminho, ameaçados por minas prestes a explodir nossas pernas. Tornamos todos os silêncios, ardis, todas as falas, contrafações, todos os gestos, seduções. A travessia vira um beco sombrio. Assombrados, viajamos com pressa. Inconformados, vemos as vielas se contorcendo em labirintos lúgubres. Fatigados, notamos a jornada longa; que se dissolve no infinito.
Vivemos na ante-sala do desespero. Toda a lucidez não aplaca o choro do nosso coração, toda a loucura não espairece a sede do nosso espírito, toda a sisudez não asfixia o grito das nossas vísceras. Sabemo-nos incompletos. Vemo-nos retalhados. Reconhecemo-nos bestiais.
Vivemos nas franjas de um oásis transcendental. Ouvimos o murmúrio de águas, paradoxalmente, próximas e inalcançáveis. Angustiados, esboçamos uma única petição: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Atenta para mim, responde-me Senhor, Deus meu! Ilumina-me os olhos para que eu não durma o sono da morte” (Salmos 13).
Ricardo Gondim