janeiro 28, 2012

O sono da morte

Vivemos como pêndulos suspensos por fios de seda. Dependemos de mãos desconhecidas. Somos delicado cristal, perigosamente estilhaçáveis. Insistimos no colo que nos aqueça no inverno.
Vivemos no limiar da morte, à espera da Fortuna que, muitas vezes escondida numa esquina sombria, foge de nós. Padecemos do mal da solidão. Sofremos de febre existencial; febre que mata sem calor.
Vivemos rodeados por armadilhas. No caminho, ameaçados por minas prestes a explodir nossas pernas. Tornamos  todos os silêncios, ardis, todas as falas, contrafações, todos os gestos, seduções. A travessia vira um beco sombrio. Assombrados, viajamos com pressa. Inconformados, vemos as vielas se contorcendo em labirintos lúgubres. Fatigados, notamos a jornada longa; que se dissolve no infinito.
Vivemos na ante-sala do desespero. Toda a lucidez não aplaca o choro do nosso coração, toda a loucura não espairece a sede do nosso espírito, toda a sisudez não asfixia o grito das nossas vísceras. Sabemo-nos incompletos. Vemo-nos retalhados. Reconhecemo-nos bestiais.
Vivemos nas franjas de um oásis transcendental. Ouvimos o murmúrio de águas, paradoxalmente, próximas e inalcançáveis. Angustiados, esboçamos uma única petição: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Atenta para mim, responde-me Senhor, Deus meu! Ilumina-me os olhos para que eu não durma o sono da morte” (Salmos 13).

Ricardo Gondim