agosto 15, 2013




Chegou a hora de dizer basta
Ricardo Gondim
Chega de encenações piedosas mal ensaiadas nos púlpitos e nos palcos. Chega de frases doce enjoativas nas liturgias. Chega de afirmações teológicas contundentes – mas que não passam de chavões. Chega de ameaças tipo “cuidado, Deus vai pesar a mão”. Chega de proselitismo que tenta passar por evangelização – além de impertinente, esse proselitismo só espelha a indisfarçável arrogância de quem se considera correto e puro.
Chega de arengas. Conflitos insuflados por quem carece de ambientes antagônicos para prosperar não podem continuar como se fossem zelo. Que cesse também o sorriso manso dos apanagiados pela simonia denominacional. Que cause asco nos cristãos ver lobos, famintos de poder e riqueza, recobertos com a lã das ovelhas. E que a luz sobre vampiros religiosos projete uma sombra que mostre como eles se parecem com os demônios da arte medieval.
Chacais e colibris não se alimentam nas mesmas fontes; ratos e leões não partilham da mesma lama – e nem todos os gatos são pardos. Tampouco se deve colocar todo o clero numa vala comum. O tempo, senhor da razão, logo revelará que não se parecem entre si os que edificam sobre pedras preciosas e os que edificam sobre palha. Não tarda e bufões religiosos, que não gaguejam suas verborragias, serão desnudados. O fundamento parece escondido por estar sob a superfície, mas logo será gritado em cima dos telhados. Aproxima-se o dia em que não se ouvirá mais o tilintar das moedas que enriquecem os vendilhões do templo.
Antes que passem pelo fogo os que dizem “em teu nome faço milagres”, alguns devem gritar “chega”.  É necessário que mercadejadores da esperança saibam: seus disparates e estultícias alcançaram os ouvidos de Deus. Sim, em sua justiça, Deus não tolera mais tanto escárnio. Quando a banalização do sagrado se junta ao aviltamento da ética, a espiritualidade para nada mais presta senão para servir de chacota. Nunca foi tão urgente que os crentes se unam contra os cambistas do templo; e que os desterrem.
Urge que profetas lembrem os falsos bispos: se o céu parece indiferente ao riso da hiena e a luz da lua não denuncia o vôo do abutre, mesmo assim o ímpio não subsistirá na congregação do justo. A aragem do deserto, que falsos evangelistas produzem, os espalhará como moinha. A panaceia do moralismo que esconde descalabros não há de alongar-se. Tornou-se urgente rechaçar o conselho dos apóstolos autoreferenciados, vaidosos e emburrecedores da vida. Antes que as pedras clamem por justiça, que mais vozes se levantem contra os aproveitadores da credulidade de quem tanto sofre.
Se compete apenas aos anjos separar o joio do trigo, Deus não vai demorar em dar ordens para que eles peneirem quem é quem. Se é prerrogativa exclusiva do supremo pastor apartar ovelhas e bodes, ele logo vai separar os apriscos. E se há um dia de prestação de contas, que os religiosos anotem: o juízo começa pela igreja.
Soli Deo Gloria